Grupo terrorista libanês lava dinheiro oriundo do tráfico de drogas e utiliza recursos para financiar a organização de ações violentas
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Nesta quinta-feira, 21, acontece no Tribunal Regional Federal da 6ª Região a audiência de instrução do processo contra dois réus acusados de planejar atentados terroristas contra alvos da comunidade judaica no Brasil. Lucas Passos Lima e o libanês naturalizado Mohamad Khir Abdulmajid são apontados pela Polícia Federal como membros do Hezbollah — grupo terrorista baseado no Líbano e que conta com apoio do regime xiita do Irã. O segundo encontra-se foragido e as autoridades acreditam que ele esteja no exterior. Seu nome já se encontra na lista vermelha da Interpol. Ambos foram detidos pela PF durante a Operação Trapiche, iniciada em outubro e concluída no mês seguinte.
A Operação Trapiche foi desencadeada após as autoridades brasileiras receberem relatórios do FBI (polícia federal dos Estados Unidos) e do serviço de inteligência de Israel, o Mossad. Na ocasião, norte-americanos e israelenses alertaram para o risco iminente de ações terroristas coordenadas pelo Hezbollah no Brasil. Os alvos seriam prédios da comunidade judaica, como sinagogas e sedes de entidades. Lima foi detido ao desembarcar no aeroporto de Guarulhos vindo do Líbano.
No entanto, a ameaça de atos terroristas contra a comunidade judaica no Brasil se mantém mais viva do que nunca. As investigações apontam para uma sofisticada rede de lavagem de dinheiro e cooptação de pessoas para as ações do Hezbollah no País. Publicado pelo Instituto Internacional de Contraterrorismo (ITC, na siga em inglês) da Universidade Reichman, de Israel, o relatório “Conspiração terrorista do Hezbollah no Brasil” — elaborado por Emanuele Ottolenghi — expõe como o grupo libanês vem atuando no País.
Ottolenghi revela como o Hezbollah utiliza recursos oriundos do tráfico de drogas, esquemas de lavagem de dinheiro e trabalho de cooptação de presidiários para o planejamento de atentados. De acordo com o relatório, o libanês naturalizado brasileiro Haissam Houssim Diab, um dos mentores dos ataques, teria conexões com o Componente de Assuntos Empresariais (BAC), área especializada da Organização de Segurança Externa (ESO) do Hezbollah. A ESO é responsável por organizar e executar ações terroristas em várias partes do mundo.
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Quem é Diab?
Na prática, o BAC cuida essencialmente de negócios relacionados ao tráfico e à lavagem de dinheiro. Além disso, é responsável por organizar atentados, adquirir armas e dar suporte às famílias dos terroristas presos ou mortos. De acordo com o relatório de Ottolenghi, “Diab poderia ser um integrante do BAC”, já que ele “é claramente um simpatizante do Hezbollah”. A suspeita assume ares de certeza quando se visita o perfil de Diab no Facebook. Na sua página da rede social, há a foto de Mustafa Badreddine, uma homenagem ao falecido comandante do BAC.
Segundo o relatório, Diab seria o responsável pela lavagem do dinheiro do Hezbollah no Brasil. Para justificar a afirmação, Ottolenghi cita uma intrigada rede de conexões internacionais e menciona a operação policial feita pela polícia paraguaia em 2017. Na ocasião, as forças de segurança prenderam em Ciudad del Este o traficante libanês Akram Abed Ali Kachmar. O criminoso era ligado Ali Issa Chamas, narcotraficante e financista do grupo, atualmente cumprindo pena de prisão no Paraguai.
Hospedado na casa Kachmar, Diab não foi preso, porém teve o celular apreendido. A análise dos dados do aparelho revelou que, entre os contatos, havia o número da linha pertencente a Sabih Fayal, financiador do Hezbollah radicado na região da Tríplice Fronteira (Brasil, Argentina e Paraguai).
Foto: PF/Divulgação
Panorama Pop com Agência O DIA