Especialistas levantam origem do problema e sugerem soluções no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública) de Minas Gerais revelam que as mulheres negras e pardas são maioria entre as vítimas de feminicídio no Estado. Dentre as que morreram entre janeiro e abril deste ano, 74,5% estão enquadradas no perfil.
Na sala pequena de um imóvel alugado, no Aglomerado da Serra, região centro-sul de Belo Horizonte, dezenas de mulheres — na sua grande maioria pretas — se reúnem em busca de cuidados. No local, funciona o projeto Mulheres na Quebrada. Muitas daquelas que chegaram ao local só descobriram que sofriam violência doméstica após frequentar o espaço.
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Simone da Silva, uma das fundadoras, conta que a iniciativa começou no ano de 2019, com uma vontade de mudar o espaço e as violências que as mulheres vivem no dia a dia.
"A gente é fruto da violência. A gente é nascida e criada aqui, e vimos as violências acontecerem dentro das nossas próprias famílias e do entorno. [O projeto] veio desse incômodo de pensar e de mobilizar enquanto sociedade civil", comenta.
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"Enquanto mulher preta e favelada, o que a gente pode fazer para conseguir mudar esse território e para conseguir mudar essa ideia de que o corpo da mulher, além de ser usado, ele pode também ser espancado e violentado?", questionou Simone ao ser entrevistada em data próxima ao Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado nesta terça-feira (25).
A imagem da mulher preta como um objeto, segundo os especialistas, faz com que a violência tenha gênero e cor. Em 2022, do total de mulheres vítimas desse tipo de crime em Minas Gerais, 60,2% eram pretas e pardas. A situação é semelhante em Belo Horizonte: 62,2%.
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Para a socióloga Mônica Barros, a raiz do problema está na história. Quando chegaram ao Brasil, no século 16, trazidas para serem escravizadas, as mulheres pretas tinham um único papel: servir. Servir as senhoras com tarefas domésticas, servir de amas de leite para os filhos das sinhás e, muitas vezes, servir sexualmente os senhores.
Em pleno século 21, 135 anos após a abolição da escravatura, a imagem de submissão e obediência do passado ainda insiste em se fazer presente.
"O que acontece com as mulheres negras? Os seus corpos continuam sendo tratados como objetos. Objetos de prazer, uma relação de poder. Então, quando há uma dissolução daquele vínculo afetivo, quando se termina um namoro, um casamento, uma relação, que pode ser breve, as mulheres negras são as principais vítimas nessa relação de poder, que é herança desse sistema escravocrata", problematiza.
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Segundo a socióloga, o principal caminho para mudar essa realidade é o diálogo. "A sociedade tem que assumir a sua responsabilidade, mas quem é a sociedade brasileira? Os meios de comunicação, a televisão, o rádio, as redes sociais, as empresas, indústrias, organizações, sistema de saúde, escolas, sindicatos, partidos políticos", prova a especialista.
Foto: Marie Claire/Globo
Panorama Pop com R7 Minas Gerais